domingo, 13 de novembro de 2011

NEM SEMPRE DEUS ESTÁ SOLTO (OU AS TRÊS MARGENS DO RIO)



Rio 1: O jovem ator enfrenta  face a face, ombro a ombro, palmo a palmo, cabeça a cabeça, o sempre soberbo Harildo Deda. É diálogo visceral do espetáculo A Casa de Eros, dirigido por José Possi Neto.  O embate acontece no Teatro Santo Antonio, da Escola de Teatro da Universidade Federal da Bahia. A plateia mal consegue respirar diante de momento teatral tão absurdamente arrebatador: aplausos em cena aberta pipocam aqui, ali & acolá. (Era 1996).
Ao final do espetáculo, em evento comemorativo em torno dessa auspiciosa estreia, dirijo-me a esse jovem ator. Parabenizo-o pelo fato de não ter se intimidado com o fato de contracenar com Harildo Deda, um dos mais importantes atores brasileiros. Ele parece demonstrar certo  constrangimento diante de meu rasgado elogio, e sussurra meio timidamente: - Obrigado!
Rio 2: Outro jovem ator, entre os muitos outros atores do Bando de Teatro Olodum, se destaca em entrevista que este repórter fazia com o grupo, por conta de série de reportagens que então realizava em Salvador para o jornal Correio Braziliense.  Pude constatar rapidamente: ok, todos muito belos, todos muito faceiros, mas afundavam-se em invariáveis timidezes. (Era 1999).
A exceção era exatamente esse outro jovem ator. Diante de minhas perguntas, esbugalhava os grandes olhos, e, risonho e franco, tinha sempre resposta engatilhada na ponta da língua. Não pude deixar de pensar com os meus botões: - Danado de inteligente esse carinha! Vai dar muito o que falar! O tempo passou na janela (É 2011).

O Rio 1 e o Rio 2 desaguaram no mar. Melhor: viraram mar. Tornaram-se dois dos mais consagrados atores brasileiros da primeira década deste século 21. Chamam-se, respectivamente, Wagner (Moura) & Lázaro (Ramos).

(E este Rio 3 que ora vos escreve? Bem, este terceiro rio que ora vos escreve continua rio. Gosto de ser rio – e rio caudaloso, espero – e rio que  continua, basicamente, caminhando e escrevendo, e, como diria aquela popular canção de Geraldo Vandré, seguindo a canção.
Mar à vista? Talvez sim. Talvez não. Nunca se sabe. Nem sempre Deus está solto).




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