quinta-feira, 28 de julho de 2011

A MISS BRASIL QUE VIROU SUFLÊ DE BACON (OU VIVER É LUTAR!)

Todos sabemos (e, ainda bem, brincamos de não saber): morreremos a qualquer momento. Mas, ainda bem, não deixamos a peteca cair: trabalhamos; vagabundeamos; fodemos; não fodemos; traímos; não traímos; temos filhos; não temos filhos; freqüentamos (ou não) cinemas e teatros; comemos; não comemos; sacaneamos (ou não) o próximo; freqüentamos (ou não) divãs de analistas; lotamos (ou não) consultórios médicos na insana, mas legítima, intenção de acreditarmos que a morte não nos espreitará na próxima esquina.
Mas não há santo que dê jeito. Fazer o quê? Ficar em casa esperando a morte chegar? Nem pensar. Não somos de ferro. Ao contrário, somos absolutamente vulneráveis. Nada, portanto, mais justo que procuremos válvulas de escape, algo que nos impeça de nos matarmos a cada pequena grande tragédia diária que nos assola – mas, ótima notícia, temos amplo cardápio de drogas pesadas a nosso dispor:
1) religiões de todos os matizes;
2) psicanálises dos mais diversos credos;
3) rezas brabas e contritas;
4) mães e pais de santo que vêem nos búzios passados, presentes e futuros;
5) astrólogos, tarólogos e outros ólogos de plantão, sempre alertas, sempre ávidos por nos demonstrar: algo poderá melhorar, algo irá melhorar;
6) pílulas legais e ilegais que nos levam a paraísos artificiais dos quais nunca queremos sair, ou, simplesmente, nos fazem dormir no meio de tarde vazia-tão-clara-sem-fim - e  dormir no meio de tarde vazia-tão-clara-sem-fim pode ser a melhor coisa do mundo;
7) paixões súbitas e avassaladoras que nos acalentam, e nos fazem crer, enganosamente, que nada será como antes;  
8) maternidades & paternidades que, cremos, nos redimirão e nos transformarão em outros seres;
9) viagens fantásticas até o fim do mundo, ou até mesmo as triviais, tipo até Petrópolis, ou Paquetá;
10) projetos novos, que, queremos crer, precisamos crer, e que atestarão para os devidos fins que, de fato, existimos;
11) etc etc etc.
Confesso: já consumi todas as drogas pesadas citadas acima – mas tenho especial afeição pela droga 10. Desde os meus verdes anos, flagro-me  mergulhado em projetos novos, geralmente literários. É potente, mas exaure e aniquila, e tem mão dupla: precisa do olhar e da aprovação do outro. Ao concluirmos um livro ou uma peça de teatro, podemos achar, adrenalizado e endorfinado pelo êxtase de escrever, que o mundo nos pertence, e que a literatura e o teatro nunca mais serão os mesmos depois da obra genial que legamos à humanidade.
O efeito da droga acaba quando o primeiro interlocutor ou o primeiro crítico disser: - Isso aqui está uma merda! Jogue tudo no lixo e reescreva tudo, caralho! (Podemos crer ou não nesse interlocutor, ou nesse crítico; e, na verdade, este é o grande busílis dessa décima droga: quem afinal decidirá que alguém é ou não genial. Outrem, ou este alguém mesmo?).
Enfim: são todas drogas pesadíssimas, tarjas negríssimas, de efeitos colaterais, por mais que leiamos as bulas, absolutamente devastadores.
Apesar desses efeitos colaterais devastadores, não abri, nem abrirei, mão dessas drogas pesadas (abrir mão dessas drogas pesadas, mas necessárias e vitais, é, no atacado, suicidar-se e, no varejo, morrer aos poucos, a conta-gotas). Mas tenho os meus truques paralelos (e a maioria dos mortais também os tem).
Um dos meus truques paralelos preferidos é zerar o cérebro (vide bula, a seguir).
Modo de usar:
a) se  ontem um rapaz de 32 anos (que poderia ser o seu filho, o vizinho do lado, ou você mesmo) matou a sangue frio dezenas de pessoas na Noruega, ou na casa do caralho, por que passarmos as 24 horas seguintes imersos, minuto a minuto, na carnificina do noticiário da tevê, da internet e dos jornais? 
b) ou se, como ocorreu na  semana passada, em meio a caminhada pelo Aterro do Flamengo,  num belíssimo sábado de sol , você deparar (como eu deparei) com o corpo carbonizado de um morador de rua, e você tem absoluta certeza de que a morte daquele homem anônimo não vai mudar em nada o curso da (nossa) história?
c) em situações assim, devemos fazer o quê? Queixar-se ao bispo, ao prefeito, ao governador, à dona Dilma? Eles terão mais o que fazer e, a depender do estado d´ânimo dessas autoridades plenipotenciárias, você poderá ouvir um solene tomar no cu  (e, muito cá entre nós, é melhor que você obedeça).
Diante dessa impotência diante da nossa impossibilidade cotidiana de mudar os  destinos do mundo nos resta: 
a) o mais deslavado cinismo. 
b) escrever e filmar histórias que mais que conscientizarem os demais terráqueos  do quão bárbaros e abjetos somos,  funcionem como espelhos de nossos desatinos.
c) pegar o primeiro o primeiro ônibus espacial que passar e crer que em algum lugar da galáxia a barra será menos pesada.
d) usar todas as drogas legais e ilegais disponíveis.
e) nenhuma das respostas anteriores (n.r.a).
Descarto, de cara, a opção c e tambéem, claro, a e (n.r.a). Prefiro o cinismo eventual; o ato fervoroso de escrever; e, last but not least, o consumo de algumas drogas, digamos, recreativas.
Nessa categoria das drogas, digamos, recreativas, me aventuro com certo destemor e intrepidez. Assisto sem pejo, por exemplo, a programas como America´s Next Top Model,  a todos os -esse-ais ( é bom crer, nem que seja por alguns segundos, que  polícia é polícia, e bandido é bandido), Criminal Minds, Medical Detectives,Two and Half Men, reprises de Os Três Patetas, e congêneres.
Entre essas congêneres, a droga, digamos, recreativa que consumo há mais tempo, é o Concurso Miss Brasil: na aurora da minha vida, na minha infância querida, plenos anos 1960, eu e minha irmã Cecé, altas horas da noite de sábado, ouvíamos, em Jequié-Bahia, num velho rádio Mullard, com ansiedade e contrição máximas, a definição de quem seria considerada a mulher mais bonita do país).
Verdade que essa droga (talvez por excesso de uso) já não me provoque efeitos tão anestésicos como desejaria. Sábado à noite, 23 de julho, acessei a Band, com a intenção expressa de tentar assistir ao Concurso Miss Brasil 2011. No começo, até tentei prestar atenção naquela sucessão de gostosas moçoilas com as pernocas e os dentes de fora, acompanhadas por um playback ordinário, e apresentadas por duas muheres,  que de tão, digamos, enfeitadas, pareciam putas de romances de Jorge Amado.
Mas, em prova evidente de que ano que vem estarei livre desse vício maldito (será?), logo cochilei pesadamente no sofá da sala. De repente, ouvi gritos, e acordei. Era Bruno, o simpático filho da vizinha ao lado, 1 ano e meio de idade, aos urros e berros, chorando sem parar. Aos poucos fui emergindo do sono profundo e voltando a grudar os olhos na tevê, que continuava a transmitir o Concurso Miss Brasil 2011.

Foi então que vi, e juro que vi:  mulher gordota, cara de bolacha-maria, e que parecia meio zonza, vestida em tons de cor de rosa e ostentando coroa na cabeça,  se arrastava pelo palco desajeitadamente, diria mesmo, tropegamente.   
Os gritos de Bruno, o garotinho do apartamento ao lado, aumentaram; acordei de vez, e desvendei o mistério: aquela mulher gordota que ora se arrastava pelo palco era a Miss Brasil 2010, que agora voltava à cena para, como se dizia em tempos de antanho, passar o cetro e o mato e a coroa à sucessora.
Em rápido discurso, a gorducha Miss Brasil 2010 frisou: tivera o mais longo reinado da história do concurso, ´435 dias´;  fez os agradecimentos de praxe (pai, mãe, avó, o cachorrinho,  a puta que a pariu); e introduziu menção inesperada  a certo fulano de tal:  ´Pelo apoio emocional que me deu´. 
Logo depois, uma das apresentadoras, indiscretíssima, acabou de, digamos, entregar o ouro: exortou a força de vontade da Miss Brasil 2010, que conseguira emagrecer ´cerca de 15 quilos  em poucos dias´.  
Mesmo sonolento, foi fácil juntar as peças e deslindar, finalmente, algo de curioso e de inusitado – e o curioso e o inusitado era o fato seguinte: o reinado de Miss Brasil 2010 durara 435 dias e o concurso fora adiado por três meses (de abril/maio, quando acontece anualmente, para final de julho) pelo seguinte motivo: a Miss Brasil 2010, mineira de boa cepa, comera, provavelmente, mais pães de queijo do que deveria, e não deu outra: engordou muuuuuitos quilos. (E foi exatamente nesse período de adiamento que a Miss Brasil 2010 se submeteu a tratamento draconiano para perder as carnes que lhe opulentavam).
De madrugada, tive pesadelo: sonhei que, na pressa em fazer a Miss Brasil 2010 perder peso a tempo de participar da coroação da sucessora, uma girafa (sim, no sonho os cirurgiões eram girafas), dizia para as outras: - Tirar apenas a gordura da barriga e dos culotes não vai bastar. Teremos que lhe tirar um dos rins, o fígado, um dos pulmões, e talvez uma das pernas e a mão direita...

Sem titubear, as outros girafas foram arrancando as partes que o cirurgião-chefe sugeriu. e ia jogando dentro de uma enorme privada cor de rosa, estacionada exatamente ao lado da minha cama.
Foi então que acordei, rememorei o pesadelo, e pensei: - Merda. Não se consegue zerar o cérebro nem em concursos de Miss Brasil. (E, antes de voltar a dormir, apossou-se de mim enorme compaixão por essa Miss Brasil 2010 que comeu mais pão de queijo do que deveria, e cantarolei, baixinho: ´Pobre menina/não tem ninguém´).

(No outro lado da parede, Bruno voltou a chorar).
 

terça-feira, 19 de julho de 2011

PEQUENO DICIONÁRIO DA PORNOGRAFIA POPULAR BRASILEIRA

(Em memória de Jorge Amado, Carlos Zéfiro, Plínio Marcos e Leila Diniz)
À guisa de introdução (epa!!!)
Palavras tipo merda e caralho estão a muitas léguas de terem a mesma nobreza e o mesmo esplendor de outras tantas palavras do amplo leque vocabular pátrio, tipo saudade, e felicidade. São cretinamente rotuladas de palavrões,  palavras de baixo calão ou, ainda, termos de linguagem chula. Os povos de língua inglesa vão ainda mais além: chamam  shit (merda), pussy (vagina) e cock (pênis) de bad words (em bom português: palavras ruins).
Palavras ruins, o cacete! Não faço parte dessa laia linguística moralista. Todas as palavras são nobres e belas; refletem, com notável fidelidade e riqueza  de fontes, a língua do povo como de fato é.
Os romances de Jorge Amado, as peças de Plínio Marcos, e as histórias de sacanagem em quadrinhos de Carlos Zéfiro (que me nutriram em todos os sentidos, desde os meus verdes anos) me ensinaram, e me ensinaram de maneira eloqüente: palavras são palavras, e devem ser amadas e sorvidas  independentemente da moralidade ou da imoralidade (ambas muito relativas) que emanam.
No começo da adolescência, a leitura de bombástica e iconoclasta entrevista de Leila Diniz no então fundamental  Pasquim, na qual todos os palavrões ditos pela atriz foram substituídos por asteriscos, me revelou o tom libertário da atriz, e me fez crer piamente (e para todo o sempre):  todas as palavras são iguais em dignidade e direitos e poderão e deverão ser vociferadas e invocadas e reproduzidas em todos os meios de expressão ao nosso alcance.
Quero e devo registrar: as palavras e expressões aqui elencadas refletem apenas a minha vivência pessoal  nas regiões do país nas quais morei, entre Bahia, São Paulo, Brasília e Rio de Janeiro. Ou seja, trata-se apenas de tentativa modesta de mapear o chulo vocabular brasileiro.
A

Abaixo do cu da perua – Na mais absoluta e inexorável merda.

Abater a lebre – Levar mulheres para cama, não exatamente para fazê-las dormir.

Afogar o ganso – Eufemismo para foder, A expressão é de uso exclusivo dos homens.

Afrescalhado – Homem cheio de fricotes, geralmente gay. Mas não obrigatoriamente.

Agasalhar croquete – Praticar sexo anal passivamente.

Ajoelhou tem que rezar – Sem sentido religioso algum, significa mais ou menos o seguinte: Já que está aí de joelhos, aproveite o embalo e me chupe o pau.

Amarrar o facão – O homem deixar de praticar o ato sexual, por velhice ou por falta de tesão mesmo.

Amasso – Sacanagem superficial, sem penetração.

Apertadinha – Mulher de vagina ainda pouco penetrada, e que tem alto valor mercadológico entre os homens.

Armado – Homem em estado de ereção.

Arranca-rabo – Confusão, furdunço, briga.

Arreto – Sacanagem superficial, sem penetração.

A vida é foda/A vida é uma merda – Expressões chulas que, em linguagem culta, poderiam ser traduzidas assim: vivemos num vale de lágrimas.

B
Babaca – Sujeito simplório, ingênuo, tolo, ou, em algumas regiões do Brasil: vagina.
Bacurinha – Vagina.
Bagos – Testículos.
Bagulho  – Mulher feia, aquela que, segundo raciocínio machista em vigor entre muitos homens,  só daria para encarar já completamente alcoolizado e no finalzinho da festa, naquele momento popularmente conhecido como ´a hora da xepa´.
Baitola  – Gay.
Balaio – Expressão geralmente utilizada em referência às mulheres: nádegas de dimensões continentais.
Bambi – Gay.
Banana  – Homem servil, sem iniciativa, pouco viril. Ou ainda: pênis.
Banho de língua – Lamber o corpo do ser desejado, dos pés à cabeça
Baranga – Mulher feia, aquela que, segundo raciocínio machista em vigor entre muitos homens,  só daria para encarar já completamente alcoolizado e no finalzinho da festa, naquele momento popularmente conhecido como ´a hora da xepa´.
Bater calçada – Prostituir-se em vias públicas.
Bater uma – Masturbar-se.

Benga – Pênis grande.

Biba – Gay.

Bicha   Gay.
Bilau – Pênis.
Binga – Pênis.
Bimbar  – Foder.
Bimbadinha -  Ato sexual de curta duração.
Boa – Mulher de altos predicados sexuais.
Boa noite Cinderela   Golpe que consiste em colocar altas doses de remédios para dormir na bebida do parceiro ou parceira, e, ato contínuo, roubar-lhe todos os pertences.
Boazuda – Mulher de altos predicados sexuais.
Bofe – No início, a palavra era usada basicamente pelo mundo gay. Hoje em dia, também as mulheres se referem assim ao homem desejável mais próximo e que, presumem, pode lhes render noites de orgasmos inesquecíveis. .
Boga – Ânus.

Boi  – Diz-se está de boi:  menstruada.
Boiola – Gay.
Bolas – Testículos.
Boneca  – Gay.
Boquete – Sexo oral.

Bosta  – Fezes. Ou ainda, como adjetivo: pessoa sem valor, imprestável.

Bosta n´água – Não se sentir inserido no contexto; se sentir à margem; ou totalmente ignorado pelos circunstantes.

Botar chifre – Trair.
Brega  – Em tempos idos: bordel. De algum tempo para cá, a expressão passou a se aplicar a tudo que esteja fora da moda do momento.
Bronha  – Masturbação masculina.
Broxa – Impotente. Pênis incapaz de entumescer na hora H.

Bufa  – Flato, digamos, ciciante, pouco barulhento, mas, segundo as más línguas, os mais malcheirosos. De poder quase letal quando disparados na classe econômica de voos de longa duração.
Bumbum – Maneira mais naïf de dizer a palavra bunda.
Bunda – Nádegas. Os moralistas que me perdoem, mas é uma das belas palavras da língua portuguesa.
Bunda mole – Indivíduo  covarde;  no popular: homem que não garante as calças que veste.
Bundão -  Indivíduo  covarde;  no popular: homem que não garante as calças que veste.
Buceta  - Apesar de os dicionários registrarem boceta, é assim, com u, que a palavra é usada por nove entre dez brasileiros quando querem se referir a vagina. 
Buraco – Ânus.
C
Cabaço  – Hímen. Por tabela,  também passou a significar homem ou mulher virgem.
Caçar – Ato de procurar, de maneira incansável, parceiros sexuais, seja na internet, seja nas ruas, seja onde o diabo for.
Cacete, caceta – Pênis.

Cadela – Vadia. Vagabunda.
.
Cadeiruda – Mulher de cadeiras (nádegas) com proporções continentais.
Cagalhão – Fezes de grandes dimensões e de consistências sólidas.
Cagando e andando – Ignorar apupos e insolências alheias. Fazer o que lhe vier à cabeça, independentemente da opinião alheia. Exemplo: Fulano  está cagando e andando para o que pensam a respeito dele. Mais recentemente, a frase ganhou bem-humorado complemento, e se pode dizer assim:  Fulano está cagando, andando e sendo aplaudido para o que pensam a respeito dele.  A expressão é bem-humorada alusão aos cavalos que participam de desfiles cívicos e militares, os quais, apesar de cagarem e andarem por toda a extensão da avenida, ainda assim são aplaudidos com entusiasmo pela platéia.
Cagão  - Covarde. Ou ainda: homem com muita sorte, que ganha as coisas com facilidade.
Cagar – Dez entre dez brasileiros usam o verbo  quando querem se referir à nossa capacidade de expelir excrementos. Ou seja:  cagam e andam para a norma culta que determina que os verbos defecar e obrar seriam os mais adequados.    
Cagar no meu pau – Expressão de baixíssimo nível, mas de uso comum. Significa provocar profunda decepção em alguém seja por qual motivo for.
Camisa de Vênus  – Hoje conhecida como camisinha. Em tempos idos, a palavra era apenas sussurrada entre quatro paredes, e os jornais evitavam a citação desse objeto. Nos anos 1980, quando Marcelo Nova criou a banda Camisa de Vênus, o vetusto jornal baiano A Tarde grafava o nome do grupo musical nas páginas do caderno cultural da seguinte forma:  Camisa de...
Caraca – Eufemismo de uso recente (dos anos 1990 para cá) para caralho.
Cara de bunda – Pessoa triste, ou zangada, ou decepcionada.

Caralho – Pênis.

Carro alegórico – Posição sexual que consiste na seguinte coreografia: em larga cama de casal, o homem deita com o pênis em riste, e a mulher acocara-se sobre esse pênis em riste, abocanhando-o com a cavidade vaginal. Em momentos de sobe e desce, desce e sobe, a mulher ainda se dá ao luxo de, inebriada de prazer, jogar beijos para uma multidão imaginária.

Casa de tolerância  – Em tempos de antanho, bordel.

Casar na igreja verde – Quando o casamento acontece com a mulher já em adiantado estado de gravidez.  Essa aparentemente enigmática ´igreja verde´  faz alusão aos quartéis policiais, geralmente pintados de verde.  Ou seja, o casório só acontecia por que os pais da noiva, indignados com a ignonímia praticada pela filha, e pelo futuro genro, os obrigavam a casar na delegacia de polícia mais próxima.

Catecismo  – Alusão bem-humorada aos livrinhos religiosos que contavam as primeiras lorotas do catolicismo às crianças dos anos 1950-1960-1970. Designa as ensebadas histórias-em-quadrinhos de  sacanagem desenhadas por Carlos Zéfiro, e que fizeram a delícia de várias gerações que ainda não tinham a revista Playboy ao alcance, literalmente, da mão.   
Cedêefe – Abreviatura de C.D.F, cu de ferro. Individuo aplicado nos estudos e no trabalho, e objeto de escárnio dos colegas de classe e de trabalho.
Chapeleta  - Em linguagem culta: glande grande. No popular: cabeça do pênis tamanho GG.
Chave de cadeia – Mulher vagabunda, vadia, devassa.  Ao se envolver com criatura assim, o homem estaria a meio do caminho da prisão, daí a razão da expressão.
Chechênia  - Reflexos da antropofagia oswaldiana que nos une e que nos faz devorar tudo, gulosamente:  o desconhecido país que se declarou independente da Rússia em 1991 ( mas o então presidente , o beberrão Boris Yeltsin, não quis saber, e a região mergulhou em guerra sangrenta que durou anos)  virou, de alguns tempos para cá, sinônimo de vagina.
Chibungo  - Gay.
Chico – Diz-se está de Chico: menstruada.
Chifrudo – Homem traído.
Chupa-ovo – Pessoa aduladora e servil ao extremo.
Chupar – Praticar sexo oral.
Chuparino /a   Homem/mulher que pratica sexo oral com freqüência máxima.
Chupetinha  -  Praticar sexo oral.
Cinco-contra-um – Eufemismo bem-humorado para masturbação masculina: cinco (dedos da mão) contra um (pênis).

Comer a bunda/Comer o cu – Praticar sexo anal ativamente.

Consolo – Vibrador.
Consolo de viúva  – Vibrador.
Corno  – Homem traído.
Crica  – Vagina.
Cu  – Ânus.
Cu-doce  – Homem/mulher que faz charme extremo e resiste à cantada alheia por tempo indeterminado.
Cuelhos – Pelos que cercam a região anal.
Cunete  – Buscar o prazer sexual esfregando a boca e a língua no ânus do parceiro/parceira.
Cuzão  – Covarde ao extremo.
D

Dar a bunda/dar o cu  – Praticar sexo anal passivamente.

Dar a Elza – Desconhece-se a mulher que gerou tal expressão, geralmente usada pelos gays, e que significa o ato de roubar a carteira ou algum objeto de uso pessoal de valor do parceiro, logo após o ato sexual.

Dar bola – Insinuar-se sexualmente de maneira ostensiva  para alguém.em quem se está interessado.

Dar mais que chuchu na serra  – Diz-se da mulher ou do homem que praticam sexo anal passivamente de maneira demasiada.

Dar no couro – A expressão é geralmente associada às pessoas mais velhas, e revela a capacidade de elas ainda terem prática sexual rotineira.

Dar mole – Revelar de maneira ostensiva interesse sexual por alguém.

De fechar o comércio  – Atualmente em desuso, era aplicado às mulheres que, de tão belas e sedutoras, seriam capazes de provocar o que a expressão sugere.

Deflorar  - Forma romântica, e démodé, de se referir ao ato de romper sexualmente o hímen alheio.

De fritar bolinhos – Homem nada viril.

Descabaçar – Forma nada romântica, e altamente usada, de se referir ao ato de romper sexualmente o hímen alheio.

Desfrutável – Mulher de acesso sexual demasiadamente fácil.
Desmarcado  – Homem de pênis de dimensões superlativas.
Desmunhecar  – Revelar por meio de gestos e maneiras a possibilidade de ser gay.
Dominatrix – A muher dominadora nas práticas sexuais sadomasoquistas.

Donzelo, donzela – Virgem.

E

Encher o saco – Importunar, incomodar, azucrinar.

Enrabar - Praticar sexo anal de maneira ativa.

Entubar brachola – Praticar sexo anal passivamente.

Em ponto de fio  - Tomada de empréstimo da arte culinária, a expressão designa o exato momento pré-orgasmo no qual o pênis e a vagina liberam substância algo viscosa (que atende pelo nome científico de esmegma) que se espalha, respectivamente, pela glande e pelo clitóris.  

Escroto – Anatomicamente, trata-se da região ocupada pelos testículos; mas a palavra é mais utilizada para definir a pusilanimidade e o mau-caratismo de alguém.

Espada – Homem de virilidade inquestionável.

Esporrar – Expelir sêmem no momento do orgasmo.

Estrovenga – Pênis. O escritor Jorge Amado usa à larga o termo nos romances que escreveu.

F

Fanchona – Lésbica.

Falso ao corpo  – Gay.

Fazer barro – Cagar.

Fazer bolinho  – Apalpar seguidamente o pênis alheio, a ponto de fazê-lo esporrar.

Fazer gravação – Praticar sexo oral com homens.

Fazer terra – Roçar. Esfregar levemente, e lascivamente, a região genital masculina na bunda de outrem.

Fideumaégua – Em dialeto sertanejo significa filho de uma égua, xingamento que quase tem o mesmo poder de fogo de filho da puta.

Filho da mãe – Forma mais branda de se chamar alguém de filho da puta.

Filho da puta – Um dos xingamentos mais clássicos da língua portuguesa, usado para expressar o nosso ódio e desprezo máximos a algumas pessoas com as quais temos de contracenar durante a vida.  

Fiofó – Ânus.

Foder – Praticar o ato sexual. Um dos verbos mais conjugados da língua portuguesa, foi imortalizado na alta poesia brasileira pelo poeta baiano Gregório de Matos, que, no século 17, escreveu os seguintes versos sobre Salvador: ´De dois efes se compoõe/essa cidade/a meu ver/um furtar, outro foder´. 

Fodido – Literalmente, o homem/mulher objeto do ato de foder. Em decorrência disso, passou a designar as situações de desconforto vividas pelo ser humano. Dizemos então  ´fulano está fodido´ quando queremos declarar que esse fulano não vive exatamente os melhores anos da vida dele.

FornicarApud Bíblia Sagrada. Foder.

Fresco – Gay.

Frutinha – Gay manhoso e super-sensível.

Fudirona – Mulher que fode com freqüência máxima.

Fundos – Nádegas.

Fuleiragem – O ato de praticar atitudes depravadas e impudicas..

Furico - Ânus

G

Gala – Atualmente em desuso. Esperma.

Galinha – Mulher promíscua e que fode com freqüência máxima

Galinhar – Exercitar a libido em potência máxima.

Gato de armazém - Pênis com dificuldade de ereção, em eterna flacidez. A expressão teria sido inspirada nos gatos de armazéns do interior em tempos idos, sempre em cima do saco (de arrroz; de feijão; de farinha), e na maior placidez.

Gemer sem sentir dor – Tentativa fracassada de poetizar o momento dos uis, ais, e outros sons guturais emitidos pelo ser humano no momento do orgasmo.

Gilete  - Bissexual. O termo, em desuso atualmente, adveio da designação de objeto homônimo utilizado para fazer a barba, a gilete, que cortava dos dois lados. 

Gravar – Praticar sexo oral.

Grelo – Clitóris.

J

Jacira – Designação algo depreciativa que certa ala da população gay utiliza para alcunhar outros gays.

Jeba – Pênis.

Jumento – Homem com pênis avantajado.

I

Invertido – Gay.

L

Lambe-cu  - Pessoa extremamente solicita e servil, disposta a fazer qualquer favor em troca de bens pessoais.
Leite – Esperma.
Levar ferro  – Praticar sexo anal de maneira passiva.
M

Mala – Pênis. Ou ainda: pessoa inconveniente.

Mandioca – Pênis grande.

Manjuba – Pênis.

Mão-boba – Atitude aparentemente inocente de apalpar as partes pudendas de outrem. Apenas aparentemente. A depender da reação de outrem, a mão pode ficar rapidamente sabida,  e aí...fodeu.

Meia nove – Posição sexual no qual os parceiros ocupam posições inversas no intercurso sexual, colocando boca e vagina, ou boca e pênis, em situações extremamente, digamos, confortáveis.

Mela-cueca – Festa-baile em que todo mundo dança com todo mundo, todo mundo roça com todo mundo, mas, no melhor momento, os pais da aniversariante chegam, e dá no que dá: ninguém come ninguém.

Melões – Seios.

Membro viril – Eufemismo algo démodé para pênis.

Merda – Fezes. Apesar desse significado escatológico e fétido, é, provavelmente, o mais amado e celebrado dos ´palavrões´ em língua portuguesa. Caetano Veloso o imortalizou em música homônima (´Merda pra você também/Diga merda e tudo bem/merda toda noite/e sempre amém´), na qual exalta a seguinte prática, usual entre atores, autores e diretores de teatro: antes de o espetáculo começar, todos dizem a palavra merda uns aos outros, como sinal de boa sorte, e para que nada dê errado durante a apresentação daquela noite.

Meter – Praticar sexo anal e vaginal ativamente.

Mijar fora da bacia – Expressão algo démodé, mas hilária: designa a prática homosexual de modo geral.

Molhar o biscoito – O ato sexual masculino.

Mulher da vida – Maneira romântica, e em desuso, de designar prostituta.

N
Nas coxas – A partir da prática sexual de caráter superficial, sem penetração, derivou-se essa expressão que significa serviço malfeito, trabalho mal executado, e feito às pressas.
Número Um  - Mijar.
Número Dois  – Cagar.
O
Olho do cu – O cu do cu. Quando alguém quer mais do que mandar outro alguém tomar no cu deve berrar a plenos pulmões: - Vá tomar no olho do cu!
Ovos  – Testículos.
P
Padaria  – Nádegas.  Costuma-se dizer às crianças quando elas caem e batem com a bunda no chão: ´Ih, amanhã não vai  ter pão!!!´
Países baixos – Região ocupada pelas partes pudendas, que envolve genitália, púbis e nádegas.
Papai-mamãe – Ato sexual tradicional, ortodoxo, no qual os parceiros se limitam apenas ao intercurso entre pênis & vagina.
Passaralho – Neologismo clássico que funde as palavras pássaro e caralho, que se materializaria num imenso caralho com asas que pairaria sobre as cabeças de funcionários de empresas em crise.  Ainda segundo essa lenda trabalhista, esse passaralho  entrava em cena ocorria a demissão de dezenas de empregados.
Passar cheque sem fundo – Gíria gay de extremo mau gosto, que quer dizer exatamente o seguinte: cagar no pau do bofe no momento do sexo anal. Perdão, leitores!

Pau – Pênis.
Pedaço-de-mau-caminho – Mulher gostosa pracaralho.

Pegação  Prática de cobiçar, e eventualmente foder, com a mulher do próximo, e com o próximo também.

Peido - Flato, digamos, tonitruante, alguns parecem trovões, mas que, segundo experts no assunto,  não seriam tão malcheirosas como as ciciantes bufas.
Perereca – Vagina.
Perobo – Gay.
Pentelho – Originalmente utilizado para designar os pelos pubianos, ganhou derivação curiosa: passou a designar pessoas inoportunas, chatas e incivilizadas.

Perseguida – Eufemismo bem-humorado para vagina.

Pica – Pênis.

Pica-doce   – O maioral, o cara que come todo mundo e a quem todos os homens e mulheres querem pertencer.
Picão  – O todo poderoso, o cara, o grande comedor, o garanhão.
Pica-tonta  – O distraído, o esquecido, o cara que não está nem aí pra porra nenhuma.
Pinguelo – Clitóris.
Pinto – Pênis.
Piranha – Prostituta carnívora.
Piriquita – Vagina.
Piroca – Pênis.
Piru – Pênis.
Piuipiu – Forma naïf para se referir a pênis.
Porra - Esperma.
Porra-louca  – O maluco, o doido, o camicaze, o que caga e anda e ainda é aplaudido para tudo e para todos..
Poupança – Nádegas.
Prochaska – Vagina. Reza a lenda, contada em mesas de bar desde os anos 1980: a palavra teria surgido a partir da seguinte situação (verídica, ou não): em baile carnavalesco realizado no Rio de Janeiro, equipe de tevê à cata de celebridades procurava desesperadamente alguma atriz, modelo ou manequim que garantisse alguma entrevista ou imagem bombástica. De repente, o repórter avistou a atriz Cristina Prochaska, nem tão superfamosa assim, mas enfim, a fila tinha de andar, e ele gritou para o cameraman: ´Fecha na Prochaska! Fecha na Prochaska!´ O pobre coitado do cameraman,  que não ligava o  nome à pessoa, foi à luta e registrou close quase ginecológico da primeira mulata (gostosíssima, mas anônima) que encontrou pela frente. Resumo da ópera:  coisas da nossa antropofagia lingüística, prochaska, em minúscula, virou sinônimo de vagina.
Punheta – Masturbação masculina.
Pururuca – Pênis nem totalmente flácido, nem totalmente entumescido. A meio pau.
Q
Quartos – Nádegas.
Qebrar louça – Verbo que designa a seguinte situação: dois amigos, duas amigas, ou um amigo e uma amiga de longa data, que se conhecem há tempos,  descobrem, de repente, do meio do nada, que  sentem inesperada tesão um pelo outro, e fodem.
Quebrar cabaço – Romper a virgindade alheia.
Queimar a rosquinha – Praticar sexo anal passivamente.
R

Rabicó  - Ânus.

Rabo – Ânus.

Ralar coco – Relação sexual entre mulheres.

RameiraApud Bíblia Sagrada: prostituta.

Rampeira – Mulher promíscua.

Rapariga – Atualmente em desuso. Prostituta.

Regra – Diz-se está de regra: menstruada.

Rodar bolsinha – Praticar prostituição em vias públicas.

Rebocado e piripicado pela buceta da mãe – Expressão à qual nunca descobri sentido algum, mas que os garotos da minha infância nos anos 1960, em Jequié-Bahia, urravam,  com a mais absoluta convicção, negando a acusação que algum colega eventualmente lhe fizera. A intenção por trás dessa sentença explosiva parecia ser a de alguém que jurava, pelo que lhe era mais sagrado: não cometera tal ato, ou tal gesto.

Rebucetê – Confusão, furdunço

Rego, regada – Aquela viela profunda que separa a nádega direita da nádega esquerda.

Roçona – Lésbica.

Rodinha – Ânus.

Rola – Pênis.

S
Sacanear – Agir de maneira devassa e lasciva. Ou ainda: incomodar e atrapalhar a vida alheia.
Sacanagem – Libertinagem, devassidão. Ou ainda: trair ou cometer atitude perversa em relação a outrem.
Saco – Testículos.
Sapata, sapatão, sapatona – Lésbica.

Sentar – Fazer sexo anal passivamente.

Sentar na boneca  – Fazer sexo anal passivamente.
Se perder  – Termo em desuso, impregnado de moralismo, utilizado quando a mulher perdia a virgindade sem se casar com o homem que a deflorara. Quando se dizia Fulana se perdeu significava que a tal fulana não mereceria mais o respeito de ninguém. (Ainda bem que esse tempo passou. Passou?)
Siririca – Ato feminino de se masturbar.
Suadouro – Crime comum entre certas prostitutas: roubar a carteira do homem com quem se relaciona exatamente no momento em que o cara chega ao orgasmo.
T
Tabaca – Vagina.
Tesudo/a  – Extremamente desejável.
Tia – Gay idoso, pertencente, digamos, à melhoridade.
Tirar água do joelho  – Mijar.
Toba – Ânus.
Tocar uma  – Masturbar-se.
Toreba – Pênis.
Trepar – Foder.
Tricha – Bicha excessivamente bicha.
Trocar o óleo – Praticar relação sexual.

U
Um-cu – Algo muito ruim, absolutamente desprezível, absolutamente execrável. Quando se diz que tal filme é um-cu, ou que aquele prato servido naquele restaurante é um cu, se quer dizer: são ordinários.

V

Vaca – Muher vadia, promíscua.

Vara – Pênis

Verga - Pênis

Viado – Gay. Veado é o bicho. Viado é a bicha.

Vício solitário – Eufemismo algo romântico para o ato de se masturbar.


X

Xana – Vagina.

Xereca – Vagina.

Xibiu – Vagina.

Xoxota – Vagina.