segunda-feira, 15 de agosto de 2011

QUEM NÃO QUER UM REYNALDO GIANECCHINI PARA CHAMAR DE SEU? (OU MELANCOLIA)

Responda rapidinho, caro leitor, antes que o nosso vigilante e truculento superego, sempre alerta, tão rápido no gatilho como John Wayne, nos pegue de jeito e nos faça dizer exatamente o contrário do que poderíamos realmente estar pensando bem lá no fundo d´alma:
 1) Você daria ao Reynaldo Gianecchini, não daria?
2) Você comeria o Ronaldo Gianecchini, não comeria?
3) Você trocaria aquele eventual baranga, ou barango, que tem em casa e que lhe azucrina diuturnamente por esse homem lindo que se chama Reynaldo Gianecchini, não trocaria?
4) Você, cara sogra, caro sogro, adoraria  que Reynaldo Gianecchini se tornasse o marido de vossas filhos e de vossos filhos, não adoraria? E telefonaria para todos os amigos comunicando-lhes essa espetacular notícia, não telefonaria?
Enfim, atire a primeira pedra aquele homem, ou aquela mulher, que viu Reynaldo Gianecchini na tela da tevê ou do cinema, ou no palco de teatro, e que de lá no fundo, de bem no fundo d´alma não tenha dito para si mesmo/a (silenciosamente mas enfaticamente):  ´Ah, meu Deus, como eu gostaria de ter esse cara ao meu lado na cama, e de chamá-lo de meu, todo meu para todo o sempre!´
A essa altura, o caro leitor ou leitora, agora já devidamente invadido e arrebatado pelo superego sempre alerta e vigilante, poderá começar a sentir profunda raiva deste cronista – e alguns até falarão em voz alta para se convencerem do que estarão dizendo: `Quem é esse Rogério Menezes de merda que fica generalizando sentimentos e desejos que na verdade são dele e apenas dele?´
Pode ser. Deve ser. Talvez tenha generalizado demasiadamente o quão belo e quão guapo e tão desejável seja esse vigoroso ator de novelas, filmes e peças de teatro. Ou não. 
Mas não tenho pudores , e atesto e dou fé:
1) Reynaldo Gianecchini (e as eternas apaixonadas mulheres de Chico que me perdoem, é bem mais bonito, mas bem maaaaaaisss bonito que o excepcional compositor e mediano escritor Francisco Buarque, o qual admiro profundamente (mas não comeria).
2) Eu, Rogério Reis de Souza Menezes, R.G. 00 884 771 18 SSP-BA, RP: 1195 – 102 -04 DRT-BA, me casaria, e me casaria ontem, com Reynaldo Gianecchini (se o cara quisesse casar comigo, claro; sou  homem que lida razoavelmente com rejeições, e tentaria partir para outra). Repito: me casaria ontem com Reynaldo Giannecchini na Igreja do Outeiro da Glória, de véu e grinalda, dressed by Vera Wang. Trilha sonora: a madre superiora Elton John tocaria no piano a canção I´m Your Man, e eu sussurraria no ouvido de meu noivo:  `If you want a love/I´ll do anything you ask me to´´. Forever, of course.
Claro, o leitor mais abusado e mais estraga-prazeres poderá querer cortar o meu barato, e bradar: 1) R.G. tem halitose; 2) R.G. ronca;  3) R.G  é totalmente heterossexual. Não cortarão. Sabemos, desde o advento do genial Billy Wilder: ninguém é perfeito.
Agora, mudemos o rumo da prosa, e falemos sério, caro leitor: esse belo homem, esse ator em processo, esse objeto do desejo de milhões de brasileiros e brasileiros, soube-se na semana passada, está sendo devorado por câncer voraz. Que poderá matá-lo. Ou não. Não há garantia alguma. Ainda que todos nós torçamos para Reynaldo Gianecchini sair dessa – e estamos todos torcendo para Reynaldo Gianecchini sair dessa –  Reynaldo Gianecchini poderá não sair dessa.
Clamores populares nem sempre são ouvidos pelo Todo-Poderoso, sabemos.   Às vezes, Ele se faz de surdo. Às vezes Ele adora pirotecnias e efeitos especiais - vide a queda das Torres Gêmeas em 2001, e o o tsunami avassalador que matou trezentos mil na Indonésia, no final de 2004. Às vezes, Ele adora tramas folhetinescas diante das quais até os mais fortes choram - vide a morte de Ayrton Senna em 1994 e a morte de Lady Di, em 1997. Às vezes, Ele se torna uruguaio desde criancinha e faz 150 mil brasileiros chorarem em pleno Maracanã, como aconteceu em 1950, quando o Uruguai venceu o Brasil por 2 a 1, e se tornou Campeão Mundial de Futebol.
Quem avisa amigo é: essa Cara é caprichoso. Donde podemos deduzir: pelo modus operandis do, digamos, comandante em chefe, estamos diante do absolutamente insondável, do inexoravelmente irremediável. Basicamente: paira sobre todos nós o grande espanto de não sabermos onde estaremos no próximo segundo, no próximo minuto, na próxima hora. Em quatro palavras: caos  cowboy, sem gelo.
Perguntas, entre milhões, que não conseguimos responder: a) Por que Reynaldo Gianecchini e  não aquele homem que matou quase cem pessoas na Noruega há algumas semanas foi premiado com câncer linfático? b) Por que crianças inocentes de três, quatro, anos de idade são vitimadas por câncer e crápulas que se pavoneiam e se locupletam no Congresso Nacional vivem até os 80?; c) etc etc etc etc etc?  Ou seja, temos porquês para caralho.                                           
Há muitíssimas evidências de que estejamos, tal e qual as avestruzes, enfiando gulosamente a cabeça no chão, para não flagrar o que acontece ao redor. Preferimos brincar de ser felizes.  Até entendo essa nossa procura de pontos de fuga. Chego até a achar essa nossa atitude de legítima. Enfrentar a vida sem qualquer tipo drogas (legais ou ilegais), de qualquer tipo de muleta, não é moleza não, meu irmão. 

A consciência dessa falta de sentido da vida tem a idade do homem – (e essa reflexão é exposta por Jose Saramago no que talvez lhe seja o livro mais seminal: Caim. A necessidade de o homem fingir que a vida tem algum sentido, também. Normal. Esse é o grande enigma, e um fascinante enigma, que a vida nos reserva: Para que porra existimos? Por que porra existimos?
Novidade alguma nessa discussão, mas é sempre importante que essa discussão seja retomada. O livro Eclesiastes, de A Bíblia Sagrada, é tão absolutamente revelador da falta de sentido da vida, que é quase impossível não se pensar em suicídio após lê-lo. De lá para cá, todos os grandes escritores, e todos esses grandes escritores bebem dessa fonte literária bíblica (dos gregos a Shakespeare; de Faulkner a Dostoiévski; passando por Tolstoi e Celine; e pelos contemporâneos Amós Oz e Orham Pamuk; entre tantos outros) - todos navegamos por essas águas profundas, e, portanto, difíceis de serem navegadas. 
Neste século 21, o mergulho nesse assunto será cada vez mais inexorável. Que o digam os magistrais filmes Melancolia (de Lars Von Trier) e A Árvore da Vida (de Terence Malick), recém-estreados nas telas brasileiras. Ambos batem nessa mesma e fundamental tecla: quem é esse Deus que dispara aleatoriamente catástrofes e cataclismas, alegrias e tristezas, mortes e vidas, contra os que, teoricamente, teriam sido criados à imagem e semelhança Dele? 
Escrevo a respeito de como somos vulneráveis e sinto imediata vontade de citar verso magistral de Castro Alves (escrito no século 19, mas absolutamente malickiano, absolutamente larsvontriano: ´Deus, ó, Deus, onde estás que não respondes, em que mundo, em que estrela t´escondes, embuçado nos céus?´
Atesto para os devidos fins: preciso crer na existência de um Deus – e creio na existência de um Deus – e é a esse Deus no qual acredito mas que talvez não exista que quero rogar pela cura do belo Reynaldo Giannechini, e da redenção de milhões de pessoas que sofrem, e sofrem muito, mundo afora – e que Deus enfim nos escute. Amém.

PS: Quer saber? A vida não é para ser explicada, é para ser vivida.

Um comentário:

  1. Muitos escreverão sobre o Giannechinni. Alguns, coisas que não têm nada a ver. Incomodo-me com essa "exploração" da beleza e drama alheios. Ainda assim, não pude deixar de pensar também sobre o drama do Belo. Fez-me pensar nos Salmos, que comparam a nossa vida com a beleza das flores do campo. Vicejam. Mas, vem um vento quente, arranca-as do solo e logo ninguém mais se lembra de onde elas estavam. Concordo com você quanto à conclusão final: "a vida não é para ser explicada, mas vivida".

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