quinta-feira, 20 de dezembro de 2012

CARTA A AMIGO QUERIDO COM MEDO DO FIM DO MUNDO (OU DESESPERANDO GODÔ)

Rio de Janeiro, 20 de dezembro de 2012.

Meu querido amigo Godô,

Viver é muito perigoso, já avisava, e alguém já havia ter dito isso a ele, alguém já tinha buzinado isso no ouvido dele, de João Guimarães Rosa, havia muito tempo, e ele apenas ratificou: `Viver é muito perigoso.´
Você já deve conhecer de cor e salteado essas frases abaixo, mas as repetirei, valerá sempre a pena ouvi-las de novo: 
1.       ´Ninguém é capaz de entender o que se faz debaixo do sol. Por mais que se esforce para descobrir o sentido das coisas, o homem não o encontrará. O sábio pode até afirmar que entende, mas, na verdade, não o consegue encontrar´. (§ 8, versícuclo 16, do Eclesiastes, um dos livros da Bíblia Sagrada).
2.    ´A vida é uma história contada por um idiota, cheia de som e fúria, não significando nada.´ Fala de Macbeth na peça homônima de William Shakespeare.
Pois é, meu prezado Godô,  ´querer´encontrar o sentido da da vida é correr atrás do vento´ (palavras ditas o mesmo Eclesiastes).
Portanto, quando a esse quesito - o que estamos fazendo neste vasto mundo que não tem rima nem solução - nunca estivemos, estamos e estaremos sozinhos. Somos todos baratas tontas trilhando caminhos e descaminhos desconexos, às vezes; conexos, outros.
Para nosso consolo, ou desconsolo, o mesmo Eclesiastes  arremata, sem dó, nem piedade:´Desfrute a vida com a mulher que você ama, todos os dias desta vida sem sentido que Deus dá a você debaixo do sol; todos os seus dias sem sentido! Pois essa é a sua recompensa na vida pelo seu árduo trabalho debaixo do sol. O que as suas mãos tiverem que fazer, que o façam com toda a sua força, pois na sepultura, para onde você vai, não há atividade, nem planejamento. não há conhecimento, nem sabedoria.´
Ou voltando a Shakespeare, na cena final de Hamlet, quando, após ser esfaqueado, e antes de morer, o personagem que dá título à peça resume a vida (e a morte) na seguinte aparente obviedade:`O resto é silêncio!´.
Portanto, meu querido, enfie o pé na jaca antes que a jaca enfie o pé em você!
Ou como cantava a eternamente-virgem Doris Day em canção antológica composta pelos americanos Jan Livingston e Ray Evans, e incluída na trilha sonora de O Homem Que Sabia Demais, de Alfred Hitchcock:`Whatever will be, Will be!´ 
Que seja! Quem sabe o que nos reserva o minuto seguinte? Assim é a vida. Mas é a única que temos, maravilhosa e tenebrosa ao mesmo tempo, e só nos resta navegá-la (apud Fernando Pessoa) - pois viver é navegar (sem carta de navegação alguma a nos orientar) e tudo será bom enquanto durar, e nada será como antes, porra!
Abraços do amigo Rogê,
P.S.  E quanto a esse seu temor nada viril de que o mundo acabe amanhã – homessa! – tenho apenas o seguinte a lhe dizer: Seja  o que Deus(dêmona) quiser, e estamos conversados!
2. Das duas uma: ou nos reencontraremos no inferno; ou no Amarelinho, ali na Cinelândia, na próxima quinta-feira, na boca da noite, sem falta.





Um comentário:

  1. Não podemos ficar órfãos dos seus belos textos, assim o mundo acaba...É melhor nos encontrarmos no Amarelinho, sempre...beijos e ânimo!

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