quinta-feira, 7 de julho de 2011

ME SEGURA QUE EU VOU DAR UM TROÇO! (OU UM RIO TRISTE E MUUUUUUITOS JANEIROS)

(Digressões que, adianto-lhe, caro leitor, não levam a lugar algum, pinceladas num fim de tarde cinzento e frio no Rio de Janeiro - tão cinzento e frio que nem parece Rio de Janeiro)
Rio 1: O jovem ator enfrenta  face a face, ombro a ombro, palmo a palmo, cabeça a cabeça, o sempre soberbo Harildo Deda. É diálogo visceral do espetáculo A Casa de Eros, dirigido por José Possi Neto.  O embate acontece no Teatro Martim Gonçalves,  da Escola de Teatro da Universidade Federal da Bahia. A plateia mal consegue respirar diante de momento teatral tão absurdamente arrebatador: aplausos em cena aberta pipocam aqui, ali & acolá. (Era 1996).
Ao final do espetáculo, em evento comemorativo em torno dessa auspiciosa estreia, dirijo-me a esse jovem ator. Parabenizo-o pelo fato de não ter se intimidado com o fato de contracenar com Harildo Deda, um dos mais importantes atores brasileiros (embora seja apenas conhecido na Bahia, e desconhecido do resto do país; problema do resto do país). Ele parece demonstrar certo  constrangimento diante de meu rasgado elogio, e sussurra meio timidamente: - Obrigado!
Rio 2: Outro jovem ator, entre os muitos outros atores do Bando de Teatro Olodum, capitaneados pelo diretor Márcio Meireles, se destaca em entrevista que este repórter fazia com o grupo, por conta de série de reportagens que então realizava em Salvador para o jornal Correio Braziliense.  Pude constatar rapidamente: ok, todos muito belos, todos muito faceiros, mas afundavam-se em invariáveis timidezes. (Era 1999).
A exceção era exatamente esse outro jovem ator. Diante de minhas perguntas, esbugalhava os grandes olhos, e, risonho e franco, tinha sempre resposta engatilhada na ponta da língua. Não pude deixar de pensar com os meus botões: - Danado de inteligente esse carinha!
O tempo passou na janela (É 2011). O Rio 1 e o Rio 2 desaguaram no mar. Melhor: viraram mar. Tornaram-se dois dos mais consagrados atores brasileiros da primeira década deste século 21. Chamam-se, respectivamente, Wagner (Moura) & Lázaro (Ramos).
(E este Rio 3 que, há quase sete meses, escreve crônicas semanais neste O Lobo no Ar, e que anda sem parar, e que escreve sem parar, esteja onde estiver - esteja em  Irecê ou em Barcelona - desde que se entende por gente, de janeiro a janeiro, sem que, pelo menos aparentemente, chegue a algum lugar, onde esse cara quer chegar? -  dia desses alguém que diz ´apreciar muito´ os meus textos me fez essa, digamos, transcendente pergunta por e-mail. A pergunta procedia, fazia sentido, tinha pé & cabeça, mas não soube responder de imediato.
Andei pensando  em alguma resposta plausível nos últimos dias, enquando caminhava sem parar, entrava beco saía beco (Lapa-Glória-Catete-Laranjeiras-Flamengo-Botafogo)  de uma Rio de Janeiro nublada e fria, quase irreal. Cheguei a conclusões meio vagas, mas, ainda que vagas, conclusões: a)  este terceiro rio que ora vos escreve continua rio (fazer o quê?). b) gosto de ser rio (ou me acostumei a ser rio?).  
Mar à vista? Talvez sim. Talvez não. Por que alguns rios deságuam no mar e viram mar, e outros não? Nunca se sabe.
Aliás, nunca se sabe de nada; aliás, nunca se sabe de porra nenhuma. 
PS: perdão leitores, mas este Rio de Janeiro frio e sem sol dos últimos dias me deixou assim, macambúzio, sorumbático, melancólico,  zonzo, e querendo, bestamente, descobrir algum sentido onde não há (nem nunca haverá) sentido algum.
(Eparrei, Iansã! Ou ainda: me segura que eu vou dar um troço! Evoé, Waly Salomomo! Waly Salomãe! Waly Salomé! )






Um comentário:

  1. há tempos não passava por aqui para me deliciar com seus textos, dos quais sempre gosto. com esse não foi diferente... mesmo sorumbático. abração

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